domingo, 10 de maio de 2009

SEM TÍTULO (1979)


Não quero pensar em nada.
Ah, ficar vazia, leve!
Não quero imiscuir-me no alheio,
No mundo que não me pertence,
Em mim mesma,
Em ti...
Não, não quero.
Desejo ficar neste lugar, só,
Sem luz, nem música,
De braços cruzados,
Olhos obstinadamente enxutos,
Rosto escondido.
E não pensar.
A vida que lá fora vai,
A vida que em mim parece mandar,
Não me interessa nem atrai.
É-me indiferente...
É-me indiferente
Se de fome alguns morrem,
Se há guerra,
Se as flores do parque calcam,
Se vivo ou simplesmente vegeto,
Se sou eu ou um mero objecto.
Não importa!
Nem as censuras ternas e piedosas
Que me possam fazer.
Não as ouvirei.
Há em mim a planta da traição
Que alguém semeou...
E eu dou-lhe água para crscer,
Para falar!
Pois não posso deixar de pensar
Que alguém me enganou.
Ah, mente humana...
Mente humana que tão facilmente mente.

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