quinta-feira, 9 de abril de 2009

A MISSA (1978)


O Padre fala em Deus,
Nas maravilhas que este fez,
Ignorando (claro)
A que não fez.

Cá em baixo
Com os olho no altar,
Com o pensamento a divagar,
Estão os cristãos (?!!!)
A missa a ouvir,
A fingir...

Eis que uma cabeça roda
Seguida de outras.
Cabeças masculinas,
Senhores de famílias finas.
Ah, aí vem a tal
Do gostinho especial!
A menina requintada,
De cara caiada,
Com um vestido novo!
Mas que tara!

Lá atrás,
A beatinha
Fala entre os dentes
Que já não tem:
PAI NOSSO
QUE ESTAIS NO CÉU,
SANTIFICADO...

(Olha o fulanoooooo!
Há quanto tempo!
E que mudado está!)
SEJA O VOSSO NOME...
(Entrou mais alguém...
Quem será?
Não vejo ninguém..
Ai, é a Maria!
Cruzes, que raio de calças
Ela hoje traz
À espera do seu João,
Que desavergonhada..
Vem à missa
Só para ser namorada!)
AMÉN!
(Olha, olha,
O sr. advogado!
Aquele é que é bom e honrado!
Tem uma filha que vai casar
Com um rapaz
Com a carteira a abarrotar.
Vai ser um casório bonito...
Acho que até vai meter cabrito
Na ementa que ele mandou fabricar!)

E a missa continua
A beata reza(?!)
Longas orações
Que o ambiente lhe insinua...

2 comentários:

Vanda Mª Madail Rafeiro disse...

Teu poema da Juventude... e cujo conteúdo se repete... o balbuciar monocórdico de ladainhas que ninguém interioriza, mas vai deitando cá para fora como norma e em coro … levanta, ajoelha, senta, levanta, benze… porquê? Porque o vizinho do lado faz… e todos fazem igual… então não vale mais uma breve e pessoal oração, onde quer que seja, mas com toda a verdade do nosso coração?
Poema da Juventude… e de hoje… tão teu, como de muita gente mais.

Lekas Soares disse...

Concordo cm a Vanda.
Um dia, há poucos anos atrás, assisti a uma conversa pós missa que ainda hoje e sempre lembrarei:
"Então estava muita gente na missa?
- Estava. Olha estava la não sei quem toda emproada. Trazia um casaco comprido vermelho!.
- O quê, outro?"
Eu disse: Credo vocês até sabem quantos casacos as pessoas têm?
Bom eu disse isto porque fiquei tão atónita com a conversa que foi o que saiu.
Não posso nomear publicamente o nome do Santo da conversa mas é mesmo verdade.
Depois dir-to-ei.