terça-feira, 10 de janeiro de 2012

O dia em que o Mundo enlouquec


por Laura Sarmento a Quinta-feira, 17 de Março de 2011 às 20:43
De manhã, bem tarde
Entreabre as janelas e respira,
Deleitando-se com o cheiro a queimado e ar rarefeito.
Olha o céu cor de chumbo e congratula-se,
Um esgar de sorriso desenhando-lhe os lábios:
Finalmente!
Aquela bola irritante amarela e quente
Mal se divisa entre o nevoeiro que paira
Na imensa cidade de betão.

Baixa o olhar e descansa a vista
Nos semblantes enigmáticos dos transeuntes,
Naquele corre corre ao som do tiquetaque
De relógios pendurados ou de pulso
Atravessam a rua ao mesmo tempo que carros,
Sem leis, sem direcções obrigatórias, sem rumo.
Caminham porque é dia.
No escuro, deitam-se de olhos abertos num sono que não vem.
Maravilha.
Finalmente, já não há que ter medo de ultrapassar o limite,
Num mundo sem limite,
Onde tudo foi ilimitadamente autorizado
Durante tempos que consideraram sem limite.

Fecha a janela sem vidros,
Fica sozinho a um canto de um lar sem paredes,
E devora-se a si mesmo avidamente
Numa fome de alma e de existir.

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