domingo, 14 de dezembro de 2008

CONHECEM? (1978)


Vai para a rua
Olhando de lado
Para quem passa,
Seguindo seu mau fado.
Sua vida é uma farsa.
De saia roçada,
Cabelo mal penteado
E de má fama marcada,
Olhares maliciosos atrai,
Sua honra trai,
Prostituta é...

Farrapo humano
Que os outros fizeram.
Ser profano
De olhos cansados
Das noites sem sonhar.
De cigarro na boca,
Encostada à esquina
Daquela ruela fria,
Imagina o que seria a sua vida
Se fosse rica,
Se não houvesse tanta avareza,
Se não existisse tanta tristeza.

De cigarro na boca,
Desconhece o ópio ou a morfina,
Mas sabe que dará em louca
Se não mudarem sua sina.
Muito cedo
Sem carinho ficou,
Seu azar começou.
Qual a sua história?
Igual a muita é,
Mas ela guarda-a na memória
E já perdeu toda a fé:
Um dia
Em que o Sol nascia
Mirou-se ao espelho...
Tinha cabelo castanho,
Olhos verdes,
E tinha fome,
E tinha frio,
E era pobre.
Seu leito era palha,
Sua comida apenas pão.

Então...Vestiu saia curta,
Os olhos pintou,
Chamaram-lhe prostituta
E o nome ficou,
Recebe dinheiro,
Seu corpo entrega,
Seja belo ou feio,
Os homens, nunca os nega.

Também não nega
Que foi olvidada
Por esta sociedade somítica
E mal organizada
Tanta crítica,
Tanta palavra...
Mas todos esquecem
A pobre prostituta
Que vestiu saia curta...

E de cigarro na boca,
A chamada sem pudor
Continua a vida de louca,
Sem prazer e sem amor.

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