segunda-feira, 28 de setembro de 2009

SEM TÍTULO (1981)


Potro branco, selvagem, suado,
Galopando ao sabor do vento da minha dor,
Pousando seus cascos de chumbo leve
No meu existir.
Potro tão branco, tão pálido de fadiga,
Potro tão suado, tão exausto da Saudade,
Que é o seu nome.
Potro tão selvagem, tão livre,
E tão esporeado pelo Amor

SEM TÍTULO (1981)


Tenho nos meus olhos
Um saibro molhado pela chuva.
Nas minhas mãos,
Um vazio que prencho.
Nos meus lábios
O sabor d eoutro sabor
Que não esqueço.
No meu corpo
A seiva do amor.
Na minha alma,
Um campo desnudado
Pela beleza do Outono
Que tornará a vir.
Na minha vida, tenho o teu mundo.
Pois
Tenho nos meus olhos
As lágrimas que não choro.
Nas minhas mãos
As tuas mãos que sinto e não vejo.
Nos meus lábios,
Um beijo teu que não esqueço.
No meu corpo.
O contacto do teu corpo.
Na minha alma,
A liberdade de ser tua.
Em mim, tenho-te a ti.

"Tenho que sorrir " natal de 1980


Uma solidão
Nunca antes sentida
Como o é agora
Passeia pelo meu ínimo.
Mas...tenho que sorrir
Mesmo assim.
E há a saudade ainda,
Impassível perante mim
Como um espelho
Onde revejo rostos amigos que beijo.
Onde me olho também, sabendo que choro,
Mas...tenho que sorrir.
Mesmo assim
Tenho que sorrir,
Para que outros sintam menos
O peso da solidão e da saudade,
Para que outros possam rir
Num gesto belo
Para o qual não tenho vontade.

SEM TÍTULO (1980)


Como água
Penetrando em socalcos de montanha,
Assim até mim
As tuas palavras chegam.
Como luz viva
De um inferno que amo,
Feito de chama
Latejando a par de ardor intenso
Assim até mim
Teu olhar vem,
Se acende e se extingue sem morrer.
Como espada de fogo e ternura
Embainhada num mesmo amor,
Assim meus lábios queimas,
Assim os atrais sem os traír.
Como teias de carícias
Aprisionando a mulher que queres
Assim teus braços me envolvem,
Libertando-me.

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

SEM TÍTULO (1980)


Ah, mas o tempo teima em não passar!
Alonga-se como estrada sem fim
Quando quero ver-te chegar.
Congratula-se cruelmente
Com o meu desespero em te esperar,
Marca-me os segundos
Nestas minhas mãos
Que as tuas vão encontrar.
Só que o tempo não sabe...
Não sabe a alegria que há
Em te amar.

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

SEM TÍTULO (1980)


Nada. Semente. Caule. Planta. Folha. Flor. VIDA!
Quase nada. Eu. Tu.O teu amor. Eu e tu.O meu amor. VIDA!
Nós. O nosso amor. VIDA!

SEM TÍTULO (1980)


Doce tumulto agitando a multidão uniforme e múltipla do meu corpo feito sobre alicerces de sentimentos. Violenta paz trazendo até mim o trago da luta útil que juntos travamos na única guerra bela do mundo. Sabor de mar e planície estreitando-se entre a minha garganta de vale escondido. Grito silencioso que não encontra eco em dor eterna, mas em saudade infinita. O significado da tua voz viajando no meu ser, amor.

SEM TÍTULO (1980)


Por vezes não sei como te dizer,
Ou como pronunciar,
Ou como te levar a crer...
Não sei como te mostrar,
Como moldurar,
Ou como te levar a ver...
A flor, muda,
Desabrocha entretanto no meu ser.
A palavra
Forma-se-me na garganta
Fugindo às garras do silêncio,
Finalmente com coragem
Para o teu sol encarar.
E então só sei murmurar
Que te amo,
Que te quero tanto
Como te quero dar.
E o teu sol brilha,
A flor ganha voz
E a palavra tem a força
De um murmúrio gritado,
De um grito murmurado,
De um amor recebido e dado.

SEM TÍTULO (1980)


A minha mão na tua mão
E longe de nós
O mundo corre,
Rubro de sangue
Numa atmosfera poluída de guerra.
A minha mão na tua mão,
Os teus lábios nos meus lábios,
E longe de nós
Divisa-se já a noite da vida
Caminhando a passos de canhão,
Inocentes pisando.
A minha mão na tua mão,
Os teus lábios nos meus lábios,
O calor do nosso amor.
E longe de nós,
O ódio.
Forte.
Enraizado.
Crescendo.
Dando frutos podres.
Dentro de nós,
O nosso amor...
Sempre.
Mais enraizado ainda.

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

SEM TÍTULO (1980)


Queria o teu coração escutar,
Suas palpitações doces sentir
No meu próprio peito.
Nos teus braços estar,
Os meus em volta do teu corpo anelar
Num gesto estreito.
Trautear a música do teu olhar
Em mim pousado, quente,
Esse olhar que não mente,
Que não paro de recordar...
Sente, amor, sente,
Sente o próprio encanto do teu olhar.
E depois diz-me
Diz-me se não tenho razão em te amar.
Em te querer,
Em desejar dar-te o meu ser.

SEM TÍTULO (1980)


A saudade por mim só sentida é uma dor que me é insuportável, como insuportável me se seria viver só no mundo. Mas quando sinto a minha dor e a tua dor, respiro, vejo, o sangue deixa de latejar nas veias, como um potro selvagem e enfurecido. Não são já duas dores distintas, a tua e a minha, que carrego e me pesam no corpo e na alma, mas as toneladas singularmente leves de um único amor único que paira em mim...e que contigo partilho.

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

SEM TÍTULO (1980)


Nós somos as crianças
De ontem,
Vivendo de falsas preocupações
E mesquinhice,
Sem os demais ouvirmos,
Seguros da nossa sabedoria.

Eles são as crianças
De hoje.
Vivem.
Ouvem-nos.
Em busca da sabedoria que não temos.

Dia 13 de Agosto de 1980 (cheia de revolta e dor adolescente)


DIGO QUE
A avalanche feita dos chamados "OUTROS"
Vem do escarro
Cuspido pela escória alarve
Dos nossos próprios medos.
E eu NÃO ligarei a resíduos.

domingo, 6 de setembro de 2009

SEM TÍTULO (1980)


Se agora tu aqui estivesses,
Meu amor,
Deixar-me-ia envolver pelo teu olhar
Qual naufrago sem forças
Para contra as vagas lutar mais.
Eu não proferiria palavras
Qual mortal extasiado
Perante a beleza magnificente do Universo.
Eu seria tua
Qual flor pertencendo à Primavera...

Se agora tu aqui estivesses,
Meu amor,
Eu dar-te-ia somente amor,
Qual mulher apaixonada
Por ti, pelo teu amor.

Baile Passado - 1980


Meteoros ardentes
Chocando com planetas esvoaçantes.
Planetas chocando com luzes vermelhas
Num Inferno paradisíaco.
Pensamentos impensados
Rodopiando num cérebro oco.
A magia brutal dos movimentos
Do ondular do corpo...de ninguém.
E, no entanto, do meu corpo.

SEM TÍTULO (1980)


O eco da tua voz querida
Ressoa-me na alma,
Vibra ao som dos meus pensamentos,
Permanece dentro do meu peito
Como uma pérola rara.
As tuas palavras
Envolvem-se no timbre
Das minhas palavras
Num baile agora silencioso
De música e luz,
De olhares e sorrisos lembrados.
Sabes?...
Não te consigo esquecer
Quando te esqueço.

sábado, 5 de setembro de 2009

SEM TÍTULO (1980)



Grilhões.
Grilhões em mim.
Vagas debatendo-se
Num mar sem água,
Espraiando-se numa praia,
Sem areia, sem nada.

Terra sem vida.
Lodo.
Lama.
Escória.
Mágoa.

O acre de uma pergunta
Que não me quero dirigir.
O perigo de uma resposta
Que não quero ouvir.

Gelo que se derrete
Dando lugar a chama
Que não se apaga.

Grilhões.
Grilhões feitos de cérebro
Que pensa.
Que pensa demasiado...

SEM TÍTULO (1980)


Eras um sonho
Que eu não sonhava
Nas minhas longas noites de insónia.
Eras um sol distante
Que não brilhava
Nos meus longos dias de chuva.
Eras maravilha
Que eu não sentia
Nas minhas longamente curtas horas
De dita felicidade.
Eras um todo
No nada que eu fazia,
Pois não te conhecia,
Porque de ti nada sabia.
Mas existias, sim,
Separado de mim
(Tão perto de mim)
Numa outra esfera
Que minhas mãos não alcançavam,
Que meus olhos na noite procuravam.
Amor, encontrei-te agora.

SEM TÍTULO (1980)


Fumo. O cigarro vai encurtando, encurtando...Aspiro com um prazer ridículo aquela coisa esfarrapada e disforme que me queima não sei o quê lá dentro. Fumo. E segundo os especialistas na matéria, o encurtar do cigarro equivale a um encurtar da vida...Assustador? Ora...Cigarro a mais, cigarro a menos, dias a mais, dias a menos...Cigarro, Vida e Morte. Coisa estúpida de se pensar. Mas coisa mais estúpida ainda se nela não se pensar.
E continuo a fumar. O cigarro está no fim. Eu apenas estou no princípio do fim. Ou no meio. Ou a um quarto. Coisa estúpida de se pensar. Mas coisa mais estípida ainda se nela não se pensar.

SEM TÍTULO (1980)


Não suplico palavras.
Nem gestos. Nem histórias.
Nem comiseração. Nem fábulas.

Mas apenas um olhar.

Um olhar onde possa o meu repousar
Sem temor de ser julgada.
Não desejo sequer falar,
Conversar sobre mim
Ou discutir quando
Como e porquê o mundo terá fim.
Não.

Apenas anseio por um olhar...

Um olhar quente, suave, amigo,
Que me traga um abrigo.
Não é minha intenção
Divagar sobre conflitos
Sobre a razão do ser ou não ser,
Afirmar aquilo que penso
Ou deixo de pensar.

Apenas peço um olhar...

Um olhar longo, intenso e compreensivo,
Que me obrigue a entender
A que o mundo pertenço e ligo...

Um olhar apenas...