terça-feira, 21 de abril de 2009

O A DEUS (1978)


Um aceno de mão
E mil sentimentos que se vão.
Uma despedida,
O latejar terrível da ferida,
O amargo da partida...

Eis!

O combóio que enfim parte.
O coração que bate...
O adeus,
A neblina,
A noite...
E no fundo,
No mais íntimo da alma,
A luz ténue de uma esperança:
Novos dias virão
Sem acenos de mão?

DORMIR (1978)


Um peso nas pálpebras,
A vontade de dormir,
O desejo de partir,
A ânsia de descobrir
O que há para além
De um horizonte inexistente.
A cabeça de chumbo
Amparada pelas minhas de mão de arame
Que se vergam com o peso.

Vou dormir,
Vou dormir,
Tenho de dormir.

E não durmo...

Tenho medo das trevas,
Da escurisdão que me vai cercar,
Tenho medo de sonhar!

E não durmo...
Não posso dormir...

quinta-feira, 16 de abril de 2009

SEU NOME (1978)


Nas escadas do Esquecimento,
Em direcção ao Desaparecimento,
Ali está ela, tombada,
Sozinha e sem nada.
Assim sempre viveu
Sem algo ter de seu,
Afastada pela Humanidade,
Pelas leis da política violada.
O semblante está cansado
E seus braços sem força.
Sua voz é um som apagado
Pelo vento levado.

Seu nome é JUSTIÇA

QUERO (1978)


Quero sorrir,
Meu pranto esquecer,
Minha tristeza fazer partir
E começar a viver.

Quero ver olvidados
Os amargos dias por que passei,
Quero ver ultrapassados
Os anos que odiei.

Quero os meus lábios abrir
Num sorriso animador,
Espalhar a paz e o amor
Num mundo que não sabe rir.

NO SILÊNCIO MAIS PROFUNDO (1978)


No silêncio mais profundo
Para descobrir existe o mundo
Das palavras e dos actos
Que o prazer mudo cala
E que a felicidade adivinha.

No silêncio mais profundo
Encontrei-te.
Falei-te,
Ouvi-te...

No silêncio mais profundo
Que reinou numa noite de Verão,
Eu tive a minha mão na tua mão.
Frases não foram precisas
Para tantas coisas terem sido ditas.

E acredites ou não
Aceitei a tua amizade
Como uma realidade,
Naquela noite de Verão.

Mas ela não durou sempre.
Agora estou diferente...
E no silêncio mais profundo
Que abafa a vida do meu mundo
Sinto-me doente,
Sinto-me uma demente
Que anseia por solidão
No meio da multidão.
Que acredita tanto na amizade
Como um ateu num padre.

E no silêncio mais profundo
Eu me afundo
No mar negro
Das minhas dúvidas.

quinta-feira, 9 de abril de 2009

O MEU LABIRINTO (1978)



O meu pequeno mundo
É um labirinto
Sem saída, sem forma, nem fundo.
Nele caminho,
Dou passos incoerentes
E outros enganadores.
Nada é verdadeiro
No meu labirinto.
É um pesadelo duro
Para quem está acordado...
E há uma tábua de salvação
Que procuro
E que não encontro em nenhum lado.
Caminho nesse labirinto,
Sem rumo determinado.
Sou poeira
Levada pelo vento
Sem sabe onde vou poisar.
Sou o nada,
Vegetando no nada,
Com aspiração a nada,
Vivendo para nada.
E esse labirinto
Em mim o sinto
Em cada passada que dou...
Não sei para onde vou,
Não sei onde estou.
É tudo um sonho
Tão real e tão cruel
Que temo acordar,
Que temo despertar
Para a Vida que desconheço.

A MISSA (1978)


O Padre fala em Deus,
Nas maravilhas que este fez,
Ignorando (claro)
A que não fez.

Cá em baixo
Com os olho no altar,
Com o pensamento a divagar,
Estão os cristãos (?!!!)
A missa a ouvir,
A fingir...

Eis que uma cabeça roda
Seguida de outras.
Cabeças masculinas,
Senhores de famílias finas.
Ah, aí vem a tal
Do gostinho especial!
A menina requintada,
De cara caiada,
Com um vestido novo!
Mas que tara!

Lá atrás,
A beatinha
Fala entre os dentes
Que já não tem:
PAI NOSSO
QUE ESTAIS NO CÉU,
SANTIFICADO...

(Olha o fulanoooooo!
Há quanto tempo!
E que mudado está!)
SEJA O VOSSO NOME...
(Entrou mais alguém...
Quem será?
Não vejo ninguém..
Ai, é a Maria!
Cruzes, que raio de calças
Ela hoje traz
À espera do seu João,
Que desavergonhada..
Vem à missa
Só para ser namorada!)
AMÉN!
(Olha, olha,
O sr. advogado!
Aquele é que é bom e honrado!
Tem uma filha que vai casar
Com um rapaz
Com a carteira a abarrotar.
Vai ser um casório bonito...
Acho que até vai meter cabrito
Na ementa que ele mandou fabricar!)

E a missa continua
A beata reza(?!)
Longas orações
Que o ambiente lhe insinua...